Uma carta de amor à sensação de viver.
E o que me fez abrir agora no meio do trabalho, escondida, uma página no drive? Dedos ligeiros e motivados que temem ser descobertos por aqueles que esperavam destes tic tic tics do teclado mais uma tarefa concluída.
Um porque que pode ser traduzido como: Fulano. O responsável por mais uma vez a perda do desafio de escrever exclusivamente para mim.
A típica história da influência do observador sobre o observado baseada no conto da ciência da aranha que prefiro guardar para mais um assunto das possibilidades infinitas de uma conversa com você, de preferência cara a cara. Afinal, na vida, não são os assuntos que são limitados e sim as pessoas que são desinteresses.
Acabo de dizer que perdi, mas talvez agora prefiro dar outra conotação a essa frase. Não sinto mais que perdi pois cada palavra escrita está se transformando em um pequeno e prazeroso estímulo em meu cérebro. E dos incontáveis objetivos e motivos que me levam a redigir algo, nesse momento estou atingido alguns que considero muito preciosos: de aliviar sentimentos e desejos presos, no instante bem no centro do meu peito, e também de talvez ser escutada num ritmo que está em outro patamar deste que estamos acostumados no dia-dia. Deste fundamentado na sobrevivência de fazer parte da geração ao mesmo tempo mais e menos conectada que já existiu.
Vejo em mim uma pressa, como se meu modo de falar e agir estivesse baseado nas regras de engajamento das mídias sociais, um saber empírico que as pessoas não disponibilizarão mais tempo para me escutar do que gastam em um post de Facebook.
Sinto culpa a cada vez que falo, medo de não estar sendo interessante para a outra pessoa, o que justifica minha vontade imensa de explicar e introduzir tudo o que digo. Talvez reflexos aprendidos de tantas vezes ser os ouvidos para conversas tão desinteressantes de pessoas tão egocêntricas.
Ontem fiquei admirando a sua voz, mais que isso a sua forma de falar. Reparei que és muito bom em pontos finais o que trouxe uma reflexão sobre uma dificuldade pessoal minha em finalizar frases. Dificuldade que me intrigou desde muito nova quando via por exemplo uma cara da minha sala, ao meu ver, pouco realizador e muito enrolador, sempre conseguindo despontar da plateia salvas de palmas ao final de seus discursos.

Minhas apresentações e discursos sempre foram algo que me orgulhei porém se recebiam palmas era pelo seu conteúdo bem trabalhado típico de uma capricorniana e não pelos seus finais nunca impactantes.
Mas voltando, a um lugar que não existiu, você me remete a uma declaração camuflada de amor que um dia escutei vindo da minha mãe para meu pai: O Paulo não tem medo do ridículo.
Eu adaptaria a você trocando o adjetivo ridículo por outro que infelizmente não encontrei no meu dicionário pessoal e que deixarei, por enquanto, a mercê da sua criatividade, se quiser gasta-la com isso.
Não posso deixar de colocar aqui alguns sentimentos e pensamentos que constantemente estão pulando dentro de mim ao escrever essas palavras: Porque sinto tanto receio de demonstrar que me importo? Porque é tão estranho eu estar gastando tempo pensando e escrevendo de certa forma uma carta para você?
Para essas perguntas tenho duas linhas de respostas.
Eis a primeira da Taís 1: Todas essas inseguranças estão baseadas na conclusão que este texto será um fracasso total levando em consideração que daqui para frente ou num futuro próximo cada um seguirá sua vida e assim colocaremos um ponto final precoce, nesta história que acabou de começar, tornando essas palavras então, perdas de tempo escritas em vão.
Mas felizmente existe a Tais 2 que graças a deus enxerga de outra forma: A previsão do ponto final continua sendo uma possibilidade, porém o ponto de vista muda: tudo bem se ele acontecer, pois se assim for, vai ser ótimo também. Não existe sentimento de derrota, pois de fato, um ponto não é um problema, e sim o ciclo normal da vida, a possibilidade de começar um novo parágrafo.
É como se talvez o desfecho de “sucesso” desse texto devesse ser que vamos viver uma linda história de amor, dessas que se acabar motivará a releitura desta carta e quem sabe (com sorte) causar um sorriso ou derramar uma lágrima.
Quanta tolice! Me pergunto de onde vieram essas Taises, principalmente a Tais 1. Será que ela é realmente uma parte original de mim ou foi moldada pela nossa sociedade? Pois no fundo, esse parágrafo que você acabou de ler, em pleno século 21, seja talvez, sincero demais e deveria ser excluído. É muita exposição para uma geração aparentemente tão perfeita segundo nossos feeds do Instagram. Esse parágrafo é do tipo último da fila de coisas a serem expressadas para criar uma imagem digna de desejo e admiração.
E me distanciando então de apenas compartilhamentos de sentimentos, minha conclusão me acalma.
A única coisa que realmente importa é o momento de agora, (sejamos clichês), e nesse momento esse texto tem me feito melhor do que muitos outros momentos da minha vida. Está me fazendo sentir mágica, sentir que dos meus dedos saem uma luz que é transmitida em códigos capazes de serem interpretados por outros da minha espécie. Também me faz sentir-me uma super escritora do Google Drive, e sobretudo me faz pensar no prazer que terei de ler isso dias, meses, anos depois e de poder voltar por alguns segundos a Tais do dia 11/04/2018 que está sentada descalça, de perna cruzada em uma cadeira no meio do escritório do MCE, olhando de 5 em 5 minutos se meu chefe se aproxima e planejando as abas que ficaram abertas para simular uma ótima trabalhadora.
Opa, não vou me apegar a tantas linhas de raciocínio. Me veio outro assunto:
Gostamos das pessoas ou das sensações que elas nos causam? Eu gosto de você ou da sensação que você me causa? Tenho me perguntado.
Eu acho que estou apaixonada, e acho que é por essa sensação! E que leveza poder escrever isso. No sentido que espero que não te assuste pois é muito mais sobre mim do que sobre você. Eu nunca saberei o que vai passar pela sua mente agora, talvez nada, e tudo bem também, mas por isso não vou pautar minhas palavras em interpretações que não cabem nem por um segundo a mim mesma.
E fazia tempo que eu não me sentia assim, e fazia tempo que tantas palavras não despencavam de mim e caiam numa folha de papel com tanta intensidade.
Mais um exemplo da minha teoria sobre a funcionalidade do amor na humanidade. Talvez a função desse sentimento tão “tão” seja de movimentar partículas e mexer o mundo. O amor me faz escrever, pintar, acordar, viajar: viver. E digo, obrigada por hoje ser você a me motivar a escrever todas essas letras, já foram outros e provavelmente serão ainda outros no futuro.
Foi chata essa parte? Talvez interesseira demais? Não era a mensagem que queria passar, queria no fundo passar algo mais ligado ao desapego às coisas que nunca serão eternas e um apego a aquilo que pode estar sempre conosco.
Uau, minha mente é muito mais rápida que meus dedos, e já sinto preguiça de reler o texto e ver que apenas metade do que passou pela minha cabeça deve ter se concretizado em palavras. Mas já é um bom começo.
11/04/2018
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